terça-feira, 9 de novembro de 2010

O melhor tirador de chope do Brasil está em Campinas

Conheça um pouco mais o barman Otagilson de Castro dos Santos, 32, vencedor da etapa nacional do 14º World Draught Master

Pâmela Paduan

Com 20 anos de experiência na profissão de barman, Otagilson de Castro dos Santos, 32, é o detentor do título de melhor tirador de chope do país. Avaliado à paisana em dias comuns de trabalho no SeoRosa Bar e Restaurante, em Campinas, Gilson – como prefere ser chamado – foi o campeão da etapa Brasil do 14º World Draught Master que ocorreu no começo de outubro. A competição reconhece os melhores tiradores de chope do mundo e o ritual de servir o chope Stella Artois. "Sirvo o cliente como a mim mesmo", declara ele, que falou ao Sabor em Pauta sobre a prática, o concurso e a viagem a Londres, na Inglaterra, onde disputou o prêmio internacional em 28 e 29 de outubro.

SABOR EM PAUTA - Como foi participar do concurso?
GILSON - Disputei com outros 30 barmans, todos da capital paulista, mas não sabíamos quando estávamos sendo avaliados. Aliás, poderia ter participado qualquer outro funcionário que estivesse na máquina quando os avaliadores chegaram, mas geralmente o trabalho é meu e eu estava lá. Eram dois avaliadores. Eles chegavam, pediam o chope e só depois se identificavam. Mas não diziam nada sobre o que tinham achado. Fiquei sabendo que fui o vencedor só no dia da premiação. Eles mandaram uma cartinha ao SeoRosa falando que eu estava entre os cinco melhores colocados e que deveria participar da cerimônia de premiação em São Paulo. Fomos lá e só na hora fiquei sabendo que eu era o primeiro. Fiquei muito feliz de ter ganhado, meu trabalho foi mais valorizado. Não tive um momento de preparação, eles chegaram e viram como eu faço realmente o meu trabalho, e isso mostra que faço bem feito.

Você já tinha participado de algum outro concurso?
Em concurso de grande abrangência e importância como este, não. Já participei de torneios, mas sem comparação com o World Draught Master, que é a nível internacional.

Como foi feita a avaliação para dar o título de melhor tirador de chope do Brasil?
Eles analisam todo o processo de tirar o chope, desde a lavagem do copo, como você .tira o chope, qual a quantidade de creme (colarinho) que você deixa no copo, os movimentos que você faz entre um copo e outro, se você serve o cliente com o logotipo do chope virado para ele... Além disso, claro, eles também observam sua agilidade, destreza e inclusive a simpatia com os fregueses. 


Como desenvolveu esta técnica que te rendeu o prêmio? Fez algum curso?
Não fiz curso nenhum, aprendi na prática mesmo. Dentro de um bar por 20 anos, você aprende a melhor forma de servir uma cerveja ou indicar um vinho...

Qual foi o prêmio do concurso?
Aqui no Brasil ganhei R$ 3 mil e ainda a oportunidade de ir para Londres, participar da fase internacional, com tudo pago pra mim e para um dos donos do SeoRosa.

Como foi participar da fase internacional?
Foi ótimo, foi minha primeira viagem internacional. Até então a viagem mais longa que eu tinha feito tinha sido ao Piauí (risos), de onde eu vim. Confesso que morro de medo de andar de avião, ainda mais 11 horas... Mas não tive como rejeitar. Ficamos oito dias na Inglaterra. Antes do dia da competição, tive que treinar a técnica de tirar o chope Stella Artois, que são nove passos. Fui treinado pela Real Academia do Chopp – criada pela Ambev – que foi quem inscreveu o SeoRosa no concurso. (Saiba quais são os nove passos) Enfim, acabei não ganhando. Eram 30 representantes de 30 países e a disputa foi por etapas. Quem ganhou foi o norte-americano. A competição é toda em um único dia, em uma espécie de reality show, luzes e câmeras para todo lado. Não consegui trazer a caneca, mas não fiquei decepcionado por ter perdido, o que vale é a experiência. Ter ganhado o prêmio nacional, tirando o chope da forma rotineira, é mais que suficiente. Assista a etapa internacional na íntegra - Gilson participa aos 37 minutos

Deu pra tirar alguma lição da forma com que os ingleses tiram chope?
Sim, as máquinas de lá são bem diferentes das brasileiras. Elas são maiores, o cálice é diferente e o jato de chope é mais forte. Visitei alguns pubs pra saber como era a cultura de lá. Nos pubs eles não vendem chope, vendem cerveja de barril e sem colarinho, o que achei estranho, porque o colarinho é que mantém a temperatura da bebida. Eles bebem em temperatura ambiente, uma coisa impensável no Brasil (risos). Os brasileiros sabem beber cerveja e chope, o bom é gelado.

E qual o seu segredo para tirar o chope melhor que qualquer um em todo o país?
Meu segredo é gostar do que faço e fazer com prazer. Isso faz a diferença. Tirando chope eu me sinto bem e acredito que isso foi considerado pelos avaliadores. Gosto de ser simpático com os clientes e tenho paixão em servi-los. Sirvo os clientes como se estivesse servindo a mim mesmo. Faço isso há quase 20 anos e não pretendo fazer outra coisa. Só deixo de servir se for para ter meu próprio bar.

Você foi consagrado por uma comissão de um concurso, mas qual é a avaliação dos clientes? Ouve com frequência comentários sobre o seu trabalho?
Eu recebo elogios sim, principalmente pela simpatia. Estou sempre alegre e, também, trabalhando no balcão de bar, a gente aprende a ouvir as pessoas, o que acaba criando uma relação mais próxima. Isso colabora para fazer um trabalho bem feito.

Como começou na profissão?
Sempre trabalhei em bar desde a adolescência e aos poucos fui melhorando os cargos. Cheguei na cidade de São Paulo do Piauí com 19 anos e estou em Campinas há quatro meses. Conheci o Ricardo Caput, um dos donos do SeoRosa, que me convidou para trabalhar com ele. Vim conhecer o bar e gostei. E já ganhei um concurso nacional trabalhando aqui! Digo que isso é sorte de principiante! (risos)

Um bom tirador de chope já sabemos como é, e o bom bebedor?
Percebi que as pessoas aqui em Campinas sabem beber. Um ou outro que pede chope sem colarinho, mas eu me finjo de desentendido e deixo pelo menos um dedo – o correto é três dedos. Se é pra tomar sem colarinho, que peça uma cerveja! Qualquer um que trabalha com isso se recusa a servir sem o creme e faço o mesmo. Às vezes não tem jeito e temos que obedecer o cliente, afinal, ele sempre tem razão.

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