quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Os alimentos também têm risco de extinção

A falta de utilização pode ser a principal causa para que certas delícias sejam esquecidas

Filipe Gonçalves

Para quem pensava que apenas os animais tinham o “privilégio” de entrar em extinção se enganou. Muitos alimentos, principalmente no Brasil, estão desaparecendo. E não por causa de uma plantação ou cultivo equivocados, mas por conta do não utilização deles. Se não têm mais utilidade, não há mais quem queira produzi-los, e assim, o alimento simplesmente deixa de existir.

Manuela Delatorre é sócia proprietária e chef de um restaurante de comida contemporânea brasileira em Campinas. Ela se destaca pela constante busca pelo melhor alimento a ser utilizado, e não necessariamente aquele que está a disposição com mais facilidade. “A gente tem que buscar o que temos de melhor, o produto na sua melhor época. Produtos bons não precisam de muitas coisas para acobertá-los, apenas ingredientes para ressaltar o sabor, como ervas, manteiga...” alerta Manuela.

Existe um catálogo internacional criado em 1996, ligado à associação “slow food” (saiba mais sobre esta associação na matéria de Bruna Marin neste blog) que identifica no mundo inteiro alimentos que estão próximos do abismo do esquecimento. O grande objetivo é incentivar a cultura e novas formas de utilizar estes alimentos.

Atualmente, são 21 alimentos brasileiros destacados no catálogo, que leva o nome de Arca do Gosto. Produtos como o pinhão, o pequi, o berbigão e o umbu estão na lista. Clique e acesse o site da Arca do Gosto. http://www.slowfoodbrasil.com/content/category/6/19/59

Para Manuela, a grande razão para que os alimentos estejam condenados a desaparecerem é a valorização exagerada e desnecessária de culturas estrangeiras. “a gente valoriza muito o que é de fora. A pessoa quer saber de truffa, caviar, mas não conhece o que tem aqui dentro. As frutas, os frutos, a grande diversidade que temos de peixes de água doce, os produtos do Amazonas do cerrado. Por outro lado, eu vejo muitos chefes de fora vindo buscar nossos produtos para levar pra lá.”, lamenta.

A chef lembra que é muito mais fácil encontrar restaurantes italianos do que brasileiros. “E os restaurantes brasileiros servem arroz, feijão e bife. Quem falou que no Brasil só se come isso? O Brasil é muito grande, cada região tem a sua cultura, o que se vende como comida típica brasileira é feijoada, mas tem tantas outras que a gente pode valorizar e resgatar.

O prato principal do restaurante de Manuela é o Filet à Cayena. Ele se resume basicamente a um filet mignon recheado com queijo brie, molho de framboesa e purê de tubérculos. O principal é o uso da taioba, um tubérculo, natural do Brasil, pouco utilizado, mas que pode render muitas receitas. Veja no vídeo abaixo como se fazer o prato Filé a Cayena.



Manuela espera no ano que vem servir pratos executivos em seu restaurante. A idéia vai ajudar a defender a tese de que é possível comer com qualidade e diversidade pagando pouco.

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